20 setembro, 2011

montanha russa

Faz tempo, tanto tempo, que eu nem lembro quando foi a última vez, que eu me senti assim, num estado de latência embrionária, como se fosse um feto bem encolhido, guardando todas as energias para o nascimento.
Como eu já nasci eu suponho que seja um renascimento, no sentido figurado claro. Sempre vejo a vida como uma sucessão de levantes e declínios em períodos mais ou menos longos, instáveis, imprevisíveis e aleatórios provocados por eventos de ordem universal e incompreensível.
Partindo do princípio cliché da montanha russa como metáfora para a vida, com altos e baixos, momentos bons e ruins, eu tenho considerações a fazer. No caso da montanha russa, os altos e baixos querem dizer justamente o oposto da própria definição: o alto da montanha russa é o marasmo e a inércia, e a descida da montanha é a adrenalina e a emoção.
Isso significa que essa metáfora pra vida serve apenas se pensarmos que "o alto da montanha" (felicidade, realização, amor, paz etc) é o ponto de inércia do ser humano e que, por isso, "a descida da montanha" só pode ser a própria vida em si, em todas as dimensões do sofrimento, do desespero, a atividade emocional e, por isso, da emoção.
O que eu quero dizer com isto tudo, mesmo que eu não esteja conseguindo me fazer entender (ou estou?), é que a felicidade/realização/amor/etc é o estado de latência/plenitude embrionária no qual eu me encontro, lá no topo da montanha russa, aquele ponto de conforto e acomodação que precede a descida, e isso pode parecer interessante afinal não é a felicidade o que todos nós buscamos?
É, seria, se não fosse a inércia óbvia dos meus pensamentos, o marasmo emocional, a falta de interesse em tudo o que faço, a preguiça mortal com que se arrastam os meus dias e uma felicidade solitária, desbotada e sem fim que só pode ser alimentada com livros, vinhos e silêncio.
Com certeza a descida está próxima e em algum momento inesperado eu serei arremessada contra o vento, sentindo o estômago colar nas costas, os pulmões doerem invadidos de ar, e a angústia de todos os sentimentos esquecidos vão brotar na minha boca como um grito, me trazendo a um novo ponto de partida.

3 comentários:

  1. Que lindo e inspirador! É o medo da felicidade. Todo ápice é considerado o ápice porque depois dele vem o declínio.

    ResponderEliminar
  2. Já falei que sou sua fã?!
    Beijos Lulli Lucena

    ResponderEliminar
  3. Marasmo não é paz, não é conforto, muito menos traz felicidade. Pelo contrário, o marasmo traz muita inquietude, muita angústia - essa potência, essa energia retida que precede a explosão.

    Marasmo não pode ser confundido com conforto, consistência e constância.

    No máximo, pode ser efeito de comodidade, de uma acomodação. Ou seja, para sair do marasmo a vida exige outra palavrinha iniciada com o C: coragem.

    ResponderEliminar