30 novembro, 2010

No meio da ponte

Alice está no meio de uma ponte.

A ponte é bamba, dessas de madeira e corda, sobre um enorme abismo com águas turbulentas correndo logo abaixo dos seus pés. A madeira desgastada vai denunciando, aos poucos, a vontade de ruir. Ecoa no silêncio seus pequenos gritos. No meio da ponte ela se encontra parada, paralisada, estática, sem saber para qual dos lados ela pretende seguir.
Um dos lados ela já conhece, mas teve seus motivos para abandonar, pelo menos até o meio da ponte. O outro ela não conhece, mas já ouviu falar como acabam as histórias do outro lado. Quem vai para o outro lado não costuma voltar inteiro.

Alice paira sozinha com a sua angústia e a agonia própria de toda a indecisão, sem saber que caminho tomar. Pesa todos os poréns sem chegar a uma equação que satisfaça. É tão ambíguo, tão profundo. De um lado da ponte, descansa sereno o amor confortável, seguro, estável, cheio de planos de um futuro melhor, o chão firme, a grama verde e a casinha com um terraço onde pode pousar na tranquilidade da velhice. Esse lado Alice conhece, sonha, anseia. Do outro lado se exaspera uma aventura pujante que só a liberdade lhe pode dar, onde os tropeços são as pedras do caminho, o caminho que ela terá que fazer sozinha. Esse lado Alice quer experimentar.

Mas qual dos dois lados da ponte escolher? E se a escolha feita for totalmente desacertada? E se o tempo se perde ou o juízo lhe falha? Alice suspensa em seus pensamentos, se afunda em dúvidas complexas, desenvolve raciocínios exagerados, constantes, esgotantes. Não poderia tudo ser mais fácil? E do meio da ponte brotarem asas para Alice voar? Voar para bem longe da ponte, essa ponte onde ela preferia não estar.

Mas não. A ponte atravessou o seu caminho para lhe lembrar que ela só chegou ali por que, um dia, decidiu andar. Sair do conforto anestesiante de uma metade, por ver na outra metade coisas que não sentia há tanto tempo. Como se o outro lado, aquele que Alice teme em atravessar, fosse lhe proporcionar o bônus de se sentir viva, com o ônus do sofrimento humano.

E cada um dos lados da ponte sussurra incansávelmente nos seus ouvidos, chamando, pedindo, sufocando. Nem um minuto sequer de silêncio ela consegue encontrar no meio da ponte. Como se aquele abismo todo abaixo dos seus pés fosse o mais perto do silêncio que ela poderia chegar, mas o abismo está tão longe. E Alice não quer pular.

25 novembro, 2010

Eu acredito de verdade

Eu acredito em amor de verdade,
sem prazo de validade,
sem tempo certo para acabar.

Eu acredito em amor de verdade,
em que a troca existe e seja justa,
em que nenhum lado precise ceder
por que impera a vontade
de estar sempre junto.

Eu acredito em amor de verdade,
onde dividir a cama, a mesa e o teto
seja prioridade, onde seja preciso
sempre dormir abraçado, seja ou não
uma noite de amor.

Eu acredito em amor de verdade,
por mais patético que possa ser
a figura de um casal apaixonado.

Eu acredito em amor de verdade,
onde eu esteja sempre melhor
com você do lado, ainda que a sua
presença não seja física.

Eu acredito em amor de verdade,
aquele que cerca por todos os lados
e o único espaço que deixa é só
pra sentir saudade.

Eu acredito em amor de verdade,
com beijos todos os dias e passeios
como eternos namorados, mesmo
estando casados.

Eu acredito em amor de verdade,
onde existem planos em conjunto,
daqueles de conquistar o mundo,
ou simplesmente sonhos antes de deitar.

Eu acredito em amor de verdade,
para todos os momentos imagináveis,
ou qualquer possível tropeço,
aquele que sempre se interessa,
acarinha e faz tão bem.

Eu acredito em amor de verdade.
Eu acredito. De verdade.