a analogia pode ser patética e altamente influenciada pela taça de vinho que me acompanha ao escrever este texto. mas eu prometo, caro leitor, que no final das contas tudo vai fazer muito sentido.
eu não gosto de miojo. na verdade eu detesto miojo. detesto aquele macarrão de arroz sem sabor, sem carboidratos suficientes para produzir bastante açúcar e, consequentemente, bastante felicidade no meu organismo. eu detesto aquele pacotinho de sódio que, erroneamente chamam de tempero e abomino mais ainda o fato de ter minha fome saciada em apenas 3 minutos.
miojo não traz felicidade. traz barriga cheia. e isso tudo é, na verdade (acompanhem meu raciocínio) uma metáfora para a felicidade na vida de um ser humano (e levando em consideração que eu sou uma humana que acha que felicidade é amor...entendam). eu não gosto de felicidade instantânea. minha felicidade não é fácil nem barata nem vem assim de graça, muito menos vem pronta num sachê.
minha felicidade demora. é saboreada lentamente. minha felicidade são vários tomates pelados escaldados, refogados com paciência no azeite extra-virgem com cebola e alho e algumas folhas de louro. e sal a gosto. minha felicidade é construída aos poucos, como um espesso molho pomodoro salpicado de manjericão. a massa vai ao fogo brando e é tirada apenas quando está no ponto: al dente. al coração.
e isso serve para todas as esferas da minha vida, mas principalmente para a paixão, que parece sempre ter sido empacotada num saquinho prateado a vácuo que dura 3 minutos. eu prefiro o amor demorado, feito a quatro mãos, com carinho e com tempero, colocado no prato como uma iguaria jamais saboreada, apreciado com um bom vinho, na mesa azul da sala.
e mesmo que o molho todo demore para apurar e a massa leve mais de três minutos em lume brando, eu prefiro esperar na fome pelo prato e (pelo amor) perfeito, do que apenas me empanturar na urgência de um estômago cheio, com aquele macarrão branco.