28 março, 2012

o prato perfeito




a analogia pode ser patética e altamente influenciada pela taça de vinho que me acompanha ao escrever este texto. mas eu prometo, caro leitor, que no final das contas tudo vai fazer muito sentido.
eu não gosto de miojo. na verdade eu detesto miojo. detesto aquele macarrão de arroz sem sabor, sem carboidratos suficientes para produzir bastante açúcar e, consequentemente, bastante felicidade no meu organismo. eu detesto aquele pacotinho de sódio que, erroneamente chamam de tempero e abomino mais ainda o fato de ter minha fome saciada em apenas 3 minutos.
miojo não traz felicidade. traz barriga cheia. e isso tudo é, na verdade (acompanhem meu raciocínio) uma metáfora para a felicidade na vida de um ser humano (e levando em consideração que eu sou uma humana que acha que felicidade é amor...entendam). eu não gosto de felicidade instantânea. minha felicidade não é fácil nem barata nem vem assim de graça, muito menos vem pronta num sachê.
minha felicidade demora. é saboreada lentamente. minha felicidade são vários tomates pelados escaldados, refogados com paciência no azeite extra-virgem com cebola e alho e algumas folhas de louro. e sal a gosto. minha felicidade é construída aos poucos, como um espesso molho pomodoro salpicado de manjericão. a massa vai ao fogo brando e é tirada apenas quando está no ponto: al dente. al coração.
e isso serve para todas as esferas da minha vida, mas principalmente para a paixão, que parece sempre ter sido empacotada num saquinho prateado a vácuo que dura 3 minutos. eu prefiro o amor demorado, feito a quatro mãos, com carinho e com tempero, colocado no prato como uma iguaria jamais saboreada, apreciado com um bom vinho, na mesa azul da sala.
e mesmo que o molho todo demore para apurar e a massa leve mais de três minutos em lume brando, eu prefiro esperar na fome pelo prato e (pelo amor) perfeito, do que apenas me empanturar na urgência de um estômago cheio, com aquele macarrão branco.

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16 março, 2012

o próximo

o próximo terá que vir pronto. terá que vir na forma de um melhor amigo, aquele com quem eu posso contar para tudo, desde os melhores momentos, até os problemas de sempre. terá que ser mais do que companheiro, um abrigo. terá que viajar comigo e não somente dormir no sofá. o próximo terá que assumir um compromisso sério com a nossa felicidade, seja longe ou seja perto. terá que estar disponível para estarmos juntos e juntos não significa o tempo todo colado, mas o tempo todo querendo em estar do lado, mesmo não estando lá. o próximo terá que ser inteiro desde sempre. não quero pedaços. já me basta um coração em frangalhos. o próximo terá que mostrar com gestos, a presença, o sentimento, a gratidão. terá que olhar pra cima, sem tirar os pés do chão. terá que saber abraçar e beijar com amor de verdade. o próximo terá que participar. terá que ver em mim a melhor companhia para conversar noite a fora, com a cabeça no travesseiro. o próximo terá que saber doar. o tempo, o esforço, a dedicação, mas principalmente terá que encontrar um lugar pra mim no coração.

12 março, 2012

meu coração

meu coração é abusado. ele usa o outro pra se sentir bem. e não importa realmente se a pessoa em questão merece meu amor ou não. meu coração precisa amar. precisa estar apaixonado por alguém, louco, insandecido, preenchido inteiro e totalmente ou pura e simplesmente apaziguado pela confortável sensação de que existe alguém que desperta nele (o coração) a vontade de dormir abraçado. meu coração não pode estar no limbo do não-sentir, esperando, aguardando, pintando um quadro confuso e desbotado. ele precisa bater mais forte, estar encantado, arrebatado e sem governo. mas com um dono que, com dor ou com amor, esteja presente, fazendo ou não sofrer.