A maioria das mulheres é que desempenha esse papel. O esforço de criar um relacionamento e fazer com que ele dê certo e permaneça existindo. A porcentagem de homens que batalham todos os dias para manter "a casa" é infinitamente menor do que a de mulheres dispostas a fazer dessa, sua missão de vida.
Investimos tempo, dedicação, horas de salão e calcinhas novas. Fingimos que não vemos uma porção de coisas, fazemos de conta que não sentimos falta daquelas baboseiras românticas, e que somos todas muito adultas, centradas e independentes. Colocamos de lado nossa carência para não incomodar o parceiro e raramente falamos abertamente dos planos que, secretamente, fazemos com eles. De casar, ter filhos e passar o resto da vida juntos. Jogamos para baixo do tapete todas as falhas do outro e junto vão também as ausências, a falta de palavras do pé do ouvido. Colocamos na balança o dobro do peso para as poucas alegrias, a metade da medida para as lágrimas que choramos.
Aplicamos uma visão "holística" do relacionamento que poderia facilmente ser confundida com um glaucoma. E com muita esperança sempre construimos coisas que, de fato, não existem. Somos criadas com a urgência de ser feliz para sempre. E isso é muito natural (e urgente) se levarmos em consideração que a natureza nos dotou de pouco tempo de procriação. É um "movimento" psicológico natural para a maioria das mulheres. Com essa urgência uterina construimos sonhos, amores profundos, expectativas. Com essa urgência queremos o maior amor do mundo, planejamos a casa e a família. Com essa urgência doamos tudo o que temos pensando que o outro anda no mesmo passo.
Com essa urgência o tempo passa e não sobra nada entre nós.
A parte mais difícil de desapegar não é do outro. É do que nós, mulheres, construimos sozinhas durante um relacionamento. Poucos homens compreendem quando uma mulher diz que "perdeu tempo" com um cara. É que nosso tempo tem outro valor, outro peso. É um investimento que nós fazemos. É o mesmo que colocar dinheiro na poupança e, em vez de render juros, você perder uma boa parte para o imposto de renda. A matemática é essa. Da perda. Se ao menos saíssemos de um relacionamento empatados...mas em geral perdemos o outro e tudo o que projetamos nele. E não é fácil passar anos e anos alimentando um sonho e depois ter que acordar.
E a coisa pode ficar muito pior se pensarmos que em breve outra pessoa terá a chance de fazer aquele mesmo investimento, no seu lugar. E que talvez essa pessoa consiga, de fato, um retorno e você fique apenas assistindo, de camarote, seu castelinho de cartas cair.
Ninguém tem como controlar o que o outro sente ou deixa de sentir, muito menos conseguimos dizer para nós mesmas "pare!". Também não controlamos a hora em que devemos abandonar o barco. Até que outro "investimento" sirva-nos de fôlego para recomeçar, a gente sempre se sente esvaziada, como se o coração fosse um par de bolsos furados, esperando alguém remendar.