08 abril, 2014

Spectativus



Expectativa, do latim medieval spectativus:
esperar, desejar, ter esperança.

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Reza a lenda que a pior coisa para um relacionamento é quando um dos envolvidos cria expectativas. Falsas ou verdadeiras expectativas, o fato é que projetar qualquer coisa para o futuro pode ser o primeiro passo para a falha do tal projeto. 

O que a lenda reza, contudo, é contrário do que prega a lógica. Pelo raciocínio matemático, tudo o que precisa ser fundado, construído, edificado, precisa antes de um plano, uma expectativa. É que mais do que uma projeção do futuro, a expectativa é uma esperança, uma aposta benevolente no universo.

Um dia eu pensei que a lenda rezava o certo, que criar expectativas era selar o destino com uma grande catástrofe amorosa, mas hoje eu vejo que a incapacidade de criar essa espera nos livra de uma gigantesca decepção, simplesmente por que erradica qualquer possibilidade de amor. 

Se de um lado existe a expectativa infantil e otimista de sonhar com o intangível, do outro lado existe a total falta de esperança no amor. Aquilo que eu acreditava ser o maior erro (esse de esperar e projetar), aquilo que eu fui aos poucos podando, tolhendo e secando era, na verdade, o maior trunfo. E nos dois cenários possíveis, o não amar é sempre mais doloroso.

Era a expectativa o que me fazia acreditar, queda após queda, que o próximo amor seria melhor, mais intenso, mais profundo, mais pra sempre. Que esse próximo amor cumpriria todas as minhas expectativas. E era por essas expectativas que eu me dedicava, amava e sorria, como se fossem sementes que eu planejava colher. E era isso que me enchia de coragem para enfrentar tantas decepções quanto fossem necessárias, até ver meu sonho falhar de novo ou triunfar enfim.

Mas o que eu tenho hoje é a falta de fé de quem não espera nada. De quem não espera encontrar o amor, esbarrando ombros numa livraria. De quem não espera se apaixonar no primeiro beijo. De quem não espera ser apresentada por uma amiga. De quem não espera fixar o olhar em alguém no meio de uma multidão. De quem não espera o tempo certo, por que quem espera, perde tempo. 

Eu acreditava que não criar expectativas deixaria a vida mais leve, o caminho mais fácil. E no começo é essa a falsa sensação de liberdade que temos. Mas depois percebemos que essa leveza é passageira e que esse desapego nos preenche de um imenso vazio, tão vasto, que fica difícil alguém entrar nesse espaço de novo.

A falta de expectativas nos distancia da capacidade de incluir o outro na nossa vida, de pensar no plural e enxergar que alguém pode andar ao nosso lado. A falta de expectativas nos priva dessa vontade de imaginar em 2 segundos, nossa vida inteira com outra pessoa, e nessa falta de planos, não apostamos, fundamos, edificamos nem construímos nada. Nem prédios, nem amor.


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