Pára tudo. Naquele momento Silvia não consegue dizer nada. Ela queria muito um papel e uma caneta para escrever, por que falar não consegue. Silvia está deitada, muda, calada, sobre o peito de Rafael. Silvia tem tanta coisa para dizer e não diz nada. Só sabe que está inundada, não tem palavras. Sabe que Rafael encontrou a chave dos seus segredos, janelas, portas e desassossegos. Sabe que Rafael sabe destrancá-la quando bem entende, e nesse momento Silvia está desarmada. Sente-se ainda mais nua, desvelada, exposta, sem guarda.
Ele descansa tranquilamente sem pensar em nada. Ela tem tantos pensamentos, tão intensos, tão desgovernados, que pensa se eu não estiver concentrada vão me escapar da cabeça em debandada. Rafael permanece mudo, Silvia continua calada. Ela não sabe se ele sente aquela mesma coisa que ela. Aquela intensidade, aquele abismo, aquela vertigem sem fim. Ela não sabe até que ponto o corpo dele se desmancha feito o seu e se perde, ou enfraquece feito o seu. Ela não sabe até que ponto ele também fica sem saber o que dizer. Silvia não sabe ainda se aquele peso no peito que ela sente, ele sente também. Aquela angústia de poder perder a única pessoa que conseguiu achar as chaves do seu segredo, por que Silvia perde as chaves o tempo inteiro.