04 novembro, 2008

A carne é fraca

Lenda urbana ou não, comportamento tipicamente masculino ou não, o fato é que se prega que “a carne é fraca”. A metáfora sugere que é quase humanamente impossível resistir aos desígnios da carne, aos desejos da pele e por isso, como num matadouro, a carne que passar à frente está pronta para o abate. A metáfora continua, nesta línguagem de açougue, para mostrar como homens e mulheres se comportam. Eles se abatem todos os dias e essa necessidade canina, carnívora e voraz transforma as relações entre os sexos num rodízio quase canibal. São insaciáveis, querendo provar uns aos outros, usando como pretexto, a tal lenda que diz que a carne é fraca e que é impossível de resistir às ofertas deste incrível mercado. Provar de tudo, provar de todas, com pouco tempo para saborear. A carne é fraca. Não importa o corte, se está bem ou mal passada, dentro do prazo de validade. O que vale é provar. O que, no entanto a maioria das pessoas não sabe, e isto se aplica majoriamente aos homens, é que não é a nossa carne que é fraca, fraca é a carne que nós provamos todos os dias.
Já dizia a minha avó, que uma refeição tem que ter “sustança”, tem que alimentar o corpo. Ora uma carne fraca não alimenta ninguém, não tem consistência e por isso há a necessidade de sempre se comer mais e mais. A carne pela carne não nutre. Um feijão, um arroz, um purê e uma salada acompanham a carne, dão a tal sustança ao prato. E continuando a metáfora percebemos que a carne é fraca por que só come carne fraca e essa carne não alimenta. Para abandonar esse ritual insaciável de gula, o homem ou a mulher só precisam encontrar, mas principalmente ser um prato de carne que alimente. E que me desculpem as mulheres que são apenas um petisco de churrasco, mas eu sou a carne que emerge de uma consistente dobradinha.