01 dezembro, 2012

crônicas de uma jovem mulher




Capítulo 1: O tarólogo



Sou curiosa. Na verdade, sou bem curiosa e poder vislumbrar uns pedaços do meu futuro sempre me pareceu uma ideia tentadora. Poder antecipar situações, me previnir de acontecimentos ou simplesmente dar oportunidade para que certas coisas aconteçam, dá aquela segurança na alma. Ou não.

Depois de um ano extremamente conturbado, eis que uma amiga me dá um conselho que ecoou na minha cabeça como um brado retumbante: "vai naquele tarólogo que eu te falei! ele é maravilhoso e acertou tudo da minha vida!!" A eloquência era tanta que em menos de dois minutos me vi convencida de que não poderia mais viver se não consultasse o tal tarólogo. 

Peguei o nome e o telefone do cara, mas só marquei uma consulta semanas depois. Sempre gostei de astrologia, signos, símbolos, cartas, mas ler o horóscopo da Susan Miller (pelo aplicativo que eu paguei para baixar) e pagar vinte e quatro reais para saber o meu jogo de tarot do amor no Personare, tinham sido as atitudes mais drásticas que eu havia tomado na minha vida astrológica. (sim, sim, eu paguei o Personare! Me julguem.) Portanto achei que ir a um tarólogo seria mais uma experiência imperdível.

Cheguei sozinha ao endereço que o tarólogo me forneceu. Uma rua relativamente estranha, colada a uma comunidade dessas que eu ainda não sei o nome, aqui no Rio de Janeiro. Toquei a campainha e rapidamente subi ao apartamento do dito cujo. O tarólogo era uma figura esquisita. Cabelo preto, mais ou menos na altura dos ombros, escovado como uma bananeira e, com certeza, tinha sido submetido a algum alisamento ou chapinha. É o tipo de coisa que qualquer mulher perceberia. 

Achei que um tarólogo teria aparência mística, com túnica branca, colares, e talvez uma pinta vermelha na testa, o que seria, na verdade, uma mistura de macumbeiro com um monge indiano. A nossa cabeça sempre produz uns estereótipos completamente idiotas quando simplesmente desconhece um assunto. O fato é que ele tinha cabelo de chapinha, usava regata de camioneiro que deixava aparentar seu buchinho saliente de cerveja, e um short surrado. E esse era o tarólogo.

Ele me recebeu numa salinha simples. Deixei minha bolsa sobre um aparador encostado à parede, de onde eu conseguia ouvir claramente o barulho da televisão ligada: era Carminha dando show em Avenida Brasil. Dentro da minha bolsa eu deixei o gravador do iPhone previamente ligado para registrar tudo o que ele ia dizer sobre o meu futuro. Não queria esquecer nenhum detalhe, mas depois da consulta a única coisa que eu tinha no celular era um capítulo da novela.

Foi uma experiência incrível ir a um tarólogo. Como eu sou uma tagarela, me concentrei para não falar nada da minha vida, testando a cada segundo os seus poderes de advinhação. Ele falou um monte de coisas que eu sentia, que eu vivia, que eu vivi. Falou de coisas tão específicas que passei a consulta inteira chorando. De alegria, eu acho. É como se, pela primeira vez na vida, eu não precisasse esconder nada do que sentia por que aquele tarólogo de chapinha sabia de tudo.

Saí da consulta e esqueci de perguntar tantas outras coisas que eu tinha dúvidas. Mesmo que fossem questionamentos patéticos como "porquê eu tenho medo de avião?" a impressão que me deu é que aquelas previsões me garatiam uma certa segurança mental, um fio condutor para a minha paz de espírito por que, finalmente, eu sabia o caminho que a vida deixou reservado para mim.

O problema de saber o futuro é que, ao contrário da tranquilidade que eu esperava, eu me deparei com a ansiedade da espera. Cada pessoa que cruza meu caminho pode ser a próxima a me fazer sofrer. Aquele rapaz que não ia dar certo, eu antecipei a derrota da situação. O próximo pode ser o homem da minha vida, mas as características têm que bater com a descrição.

O ônus de "saber o futuro" é essa angústia do que ainda não chegou. O bônus é que você tem tempo de olhar tudo com mais atenção, dar uma nova chance ao que você iria desistir e perceber certas nuances da vida que antes você não conseguia ver. É como se, de repente, eu fosse uma espectadora atenta da minha própria trama, desejando que chegue logo próximo capítulo, mas contemplando a vida enquanto o tempo não passa. 

Só essa correção na minha miopia emocional já valeu a ida ao tarólogo.