29 setembro, 2008

Qual é a hora?

Amélia não consegue colocar o fogão pra funcionar. Já chamou o porteiro, o encanador. Já leu e releu o manual e o gás continua escapando sabe-se lá por onde. Todos os tubinhos, os encaixes, os canos, tudo no devido lugar. Amélia já usou a esponjinha com sabão, mas o vazamento não se acusa e Amélia continua, abusada e obtusa, sem conseguir ligar o fogão. Qual é a hora de Amélia simplesmente deixar de cozinhar?


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Elisabete sentou-se na cama, tarde da noite, catou todas as notinhas de contas de cartão para fazer suas contas. Ela estava adiando esse momento, esperando a vida dar uma guinada incrível e tudo se reverter. Mas chegou a hora de realmente colocar as contas no papel. Tudo em 4, 6, 10, 12 vezes sem juros no cartão. E não acabam nunca. E ainda aluguel, condomínio, feira, farmácia, consertos do carro. Tudo muito caro. Do dinheiro que ela tem, nada sobra e ainda vai faltar. Qual é a hora de Elisabete se desesperar?


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Marina tem a casa toda bagunçada. Móveis por montar, plantas morrendo, louça por lavar. As toalhas espalhadas pela casa, o tapete do banheiro todo molhado. Milhares de pastas e cds espalhados pelo chão da sala por que o rack não está montado. Qual é a hora de Marina organizar a vida e depois se organizar?


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Maria Alice tem um namorado, todo carinhoso, com quem ela passa o final de semana inteiro deitada na cama, conversando potoca, sem hora pra dormir de novo ou acordar de novo. Maria Alice encontrou esse namorado sem nem procurar por um, desmentindo o ditado que diz que quem procura acha. Qual é a hora de Maria Alice se deixar levar de vez, sem reticência e sem reticências?


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Fernanda está num dilema: olha dentro dos olhos de quem gosta e somente diz que gosta quando na verdade sente bem mais que isso. E volta a olhar nos olhos, a afagar, dar carinhos e beijinhos, a abraçar como se fosse a última vez, só para medir a intensidade do sentimento. Chega a não ligar, nem dizer nada, por que também precisa medir o quanto sente falta. Qual é a hora de Fernanda dizer que ama, em vez de dizer que gosta?


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Abigail tem mil projetos, mil sonhos, mil coisas que quer concretizar. Mas está perdida e sem tempo. Sempre teve mamãe do lado pra guiar e agora não tem mais. São tantas idéias, tantas, que não dá pra controlar. O cérebro não pára. O corpo pára e Abigail cai no meio da rua, assim, do nada. Qual é a hora de Abigal sentar e fingir, por um momento, que nada existe, para que ela possa descansar?



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Raquel não tem tempo. Nem pra si, nem pra vida, nem pra nada. Ela não fica parada. Corre de um lado pro outro e não chega a nada. Que satisfaça. Qual a hora de Raquel parar o próprio relógio? O relógio não pára.

4 comentários:

  1. amei (e entendi) todos os textinhos (pra não dizer textículos).

    =*
    lov u honney

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  2. entendi tudinho.
    também, se até anna entende, ne?! :P

    adorei.
    mto bem escrito, mto criativo, mto fofo, mto lindo. tudo-de-bom.

    bjos "flor" hehehe

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  3. carols, tenho que falar uma coisa. Tais escrevendo super bem, melhor do que quando te conhecia. Hoje, desconhecida minha, talvez, voce escreve e transcreve. Melhor, estético, eu diria que por fim o que você pensava tá indo em letras desorganizadas em sua organização. Hoje, agora a noite, me peguei pensando e tendo saudades de você. Gosto muito de ti, bixinha.
    bjo grande

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