07 agosto, 2008

A ponte

Eu estou diante de uma ponte de madeira que balança insegura sobre um abismo. O final da ponte não se vê, muito menos o que está do outro lado. Onde eu estou é seguro. Atrás de mim estão todos aqueles que dependem ou cobram de mim seja o que for, mas que, principalmente, não querem que eu atravesse a ponte. Contudo, para eu atravessá-la, são me impostas três condições: colocar duas pesadas asas sobre as costas, não levar ninguém comigo na travessia e cortar as cordas que sustentam a ponte quando chegar ao outro lado, para que ninguém me siga. Por que o que está do outro lado só pertence a mim. Porém não é fácil pagar tão caro para ver o que há depois do abismo. Eu tenho as asas que, apesar de asas, são pesadas. Eu tenho uma ponte que não sei onde vai dar e tenho a culpa espremida, junto com as minhas coisas, pesando dentro da bolsa. Seria pedir demais que a ponte fosse o caminho de volta ao útero materno? Seria pedir demais que eu voltasse a ser só, sem erros nem acertos, uma residente adormecida de uma barriga quentinha? Eu quero atravessar a ponte e quero ir para tão longe que ninguém me alcance.


CRÉDITOS

À minha mãe que tinha o melhor útero do mundo.
A ela novamente por ser a única que apóia a minha travessia.

2 comentários:

  1. Pensa muito não, atravessa essa porra e depois vê no que deu! É melhor fazer do que ficar parada no tempo!
    bjo

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  2. Eu também escrevi, em meu blog, algo sobre ponte. Se quiser, pode ir me visitar. Sempre será bem-vinda.
    Abraço!

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