24 fevereiro, 2012

faz mal, é imoral ou engorda


Faz mal.

Aquele amor louco, desesperado, aquela paixão sem freios com um abismo do lado, aquele amor que suga nossas energias e sem o qual supostamente não podemos viver. Um sufoco, uma agonia um não-sei-respirar-sem-você. Uma cegueira absurda, uma surdez sem limite, um ciúme que deixa de recordação uma gastrite.

É imoral.

Aquele amor de beco, escondido, com receio, aquele que ninguém pode saber. Num canto escuro, um sussuro e algumas mensagens que precedem o encontro sujo. Aquele amor de vinho, que a sobriedade não permite esquecer. Um amor impossível, que à noite é tão quente, e de dia esfria triste, um amor ébrio que deixa apenas o cheiro do perfume, que persiste.

Ou engorda.

Aquele amor calmo e sereno, que envolve nos braços, que são suaves os abraços, que a noite de amor acaba numa sobremesa de chocolate. Aquele romance quase apagado, um amor da sala pro quarto. Algumas horas assistindo filme num sofá desbotado. Uma mistura de pipoca e restaurantes, sem espaço para intensidade. Um prato de comida morna e sem vontade.


a sua cama


Experimente tirar a cama do quarto. Tirar dos aposentos aquele trambolho imenso de noites mal dormidas, de sonhos, de lembranças, de afagos. Tirar aqueles dois metros quadrados de tardes passadas embaixo do edredon, de segredos de travesseiro. O que você vai fazer com esse espaço? Vai encher de livros? Vai dormir sentado? Vai esperar o dia amanhecer? Vai encher de novos sapatos? Vai pintar cada azulejo e esperar que a vida ocupe o espaço? Quando você entra no quarto vazio, antes habitado, o que você vai fazer com o estrago? Quem, quando e onde vai substituir a solidão? Você pode até colocar, temporariamente, uma poltrona nova, um pingo de diversão, mas ao fim do dia a decoração cansa por que não era pra ter uma poltrona e sim, de volta, a sua cama. Fofinha, macia, cheia de planos, de mãos dadas, com os quatro pés no chão.