28 setembro, 2011

tpm, preconceitos ou a ode à intolerância?

*   *   *

Qual é o seu preconceito?

Num rasgo de revelação eu decidi abrir meu coração e contar os meus. Porquê? Eu não sei. Mas talvez a minha TPM tenha umas palavrinhas a dizer sobre isso.

*   *   *

Descobri que sou uma pessoa preconceituosa. Mentira, eu não descobri, eu já sabia. No fundo todos somos com alguma coisa, só que ninguém gosta de admitir. Mas eu não tenho problemas em admitir defeitos e faço com frequência, a fim de evitar decepções alheias. As pessoas criam expectativas umas sobre as outras e ficam profudamente magoadas quando a gente não corresponde. Mas, ei! A criação foi sua.

Meus preconceitos não são com "raças", cores ou gêneros, muito menos com opções sexuais ou gastronômicas. O que cada um faz com sua vida pessoal diz respeito a ele e somente a ele. Meu preconceito é com comportamentos e formas de pensar.

Não, eu não acho que devo respeitar/aceitar a opinião de cada um. Eu não respeito a opinião de um nazista, por exemplo. Mas esse é um exemplo radical que não vem ao caso. Eu tenho muitos outros preconceitos que, no final das contas, podem ser mera intolerância. Ainda não decidi qual das duas palavras define melhor.

Eu tenho preconceito com burrice. Gente burra, desarticulada, que não consegue criar um raciocínio lógico seja pro que for. Aquela burrice de quem tem preguiça de pensar. Aquela burrice de quem prefere fazer perguntas óbvias do que parar 2 minutos para refletir sobre o assunto. Aquela burrice de quem prefere pedir pra você fazer, do que aprender como fazer. Aquela burrice de quem repete o mesmo erro vezes sem conta e acha uma merda quando tudo dá errado. Aquela lentidão para processar uma informação. Eu não consigo conviver ou formar uma amizade, mesmo que a pessoa tenha bom coração. O meu coração/estômago não é tão bom assim.

Eu tenho preconceito com a pobreza. Não aquela em que falta dinheiro ou comida na mesa. Aquela que falta espírito. Preconceito com gente rasa, que pode ter toda a informação do mundo, mas cujo caráter impede que ela seja relevante. Aquela pobreza de espírito a que estão condenados todos os bossais, os donos da verdade, as "assumidades" num assunto, ou simplesmente as cabeças de ervilha.

Eu tenho preconceito com quem decora nomes. Nomes de pessoas "importantes", que fizeram não sei o quê não sei quando e foi genial. Eu não tenho memória e nomes e patamares não me interessam. Me interessa apenas o que foi feito. Dá licença, eu sou cheia de preconceitos.

Eu tenho preconceito com a pobreza de educação que não tem nada a ver com o nível do ensino das escolas. Preconceito com quem escuta aquela música alta no celular, com quem faz festa em apartamento e incomoda os vizinhos, com quem empurra sua cara no bolo depois que canta parabéns, preconceito com quem fala alto e com quem não sabe falar (nem escrever).

Eu tenho preconceito com a pobreza de intelecto. E isso não quer dizer que todo mundo tem que ler Dostoiévski, mas que tem que ler bons livros. Eu tenho preconceito com quem não lê. Com quem não tem um título sequer para me indicar. Ou um filme fantástico na manga. Ou que escuta música de péssima qualidade (e péssima qualidade pressupõe uma uninamidade de que aquilo é muito ruim). Ou não tem um assunto para uma mesa de bar.
Eu tenho preconceito com aquele hippie super astral e cabeça fresca sem preconceitos, que quer viver de pulseira de missanga, é contra o consumo e o capitalismo, que toca maracatu e é do mangue, mas que fuma maconha à custa da mesada dos pais CAPITALISTAS. Mas esse preconceito quem ensinou foi mamãe. Eu tenho preconceito com gente preguiçosa, que dorme no ponto e se deixa levar nas costas. Morro de preconceito com gente incompetente.

Eu tenho preconceito com quem não toma banho, não escova os dentes e faz a linha sujinho-descolado e, por isso, não consigo dar créditos nem apreciar qualquer tipo de talento: Janis Joplin e Bob Marley, vocês não conquistaram meu coração. Sou pobre, mas sou limpinha, faz mais a minha linha. (e essa rima?)

Eu tenho preconceito com quem jura que é "malvado", que é polêmico, que incendeia as discussões, que causa furor e argumenta, que não está nem aí pra nada nem pra ninguém, que fala-mermo. Que preguiça que eu tenho de discussão.

Tenho preconceito com crenças e idolatrias religiosas, mas religião é assunto pessoal (de foro íntimo, profundo e exclusivo) que não se discute. Mas por que raios você coloca isso no meu mural do facebook?

Eu tenho preconceito com quem vai me esculhambar depois deste texto. Amigo, você não sabe da missa, um terço.

Mas tudo bem. Qual a sua lista de preconceitos?


Um beijo da tpm.

20 setembro, 2011

montanha russa

Faz tempo, tanto tempo, que eu nem lembro quando foi a última vez, que eu me senti assim, num estado de latência embrionária, como se fosse um feto bem encolhido, guardando todas as energias para o nascimento.
Como eu já nasci eu suponho que seja um renascimento, no sentido figurado claro. Sempre vejo a vida como uma sucessão de levantes e declínios em períodos mais ou menos longos, instáveis, imprevisíveis e aleatórios provocados por eventos de ordem universal e incompreensível.
Partindo do princípio cliché da montanha russa como metáfora para a vida, com altos e baixos, momentos bons e ruins, eu tenho considerações a fazer. No caso da montanha russa, os altos e baixos querem dizer justamente o oposto da própria definição: o alto da montanha russa é o marasmo e a inércia, e a descida da montanha é a adrenalina e a emoção.
Isso significa que essa metáfora pra vida serve apenas se pensarmos que "o alto da montanha" (felicidade, realização, amor, paz etc) é o ponto de inércia do ser humano e que, por isso, "a descida da montanha" só pode ser a própria vida em si, em todas as dimensões do sofrimento, do desespero, a atividade emocional e, por isso, da emoção.
O que eu quero dizer com isto tudo, mesmo que eu não esteja conseguindo me fazer entender (ou estou?), é que a felicidade/realização/amor/etc é o estado de latência/plenitude embrionária no qual eu me encontro, lá no topo da montanha russa, aquele ponto de conforto e acomodação que precede a descida, e isso pode parecer interessante afinal não é a felicidade o que todos nós buscamos?
É, seria, se não fosse a inércia óbvia dos meus pensamentos, o marasmo emocional, a falta de interesse em tudo o que faço, a preguiça mortal com que se arrastam os meus dias e uma felicidade solitária, desbotada e sem fim que só pode ser alimentada com livros, vinhos e silêncio.
Com certeza a descida está próxima e em algum momento inesperado eu serei arremessada contra o vento, sentindo o estômago colar nas costas, os pulmões doerem invadidos de ar, e a angústia de todos os sentimentos esquecidos vão brotar na minha boca como um grito, me trazendo a um novo ponto de partida.

19 setembro, 2011

uma verdade inconveniente

Ok. Este texto não tem nada a ver com o famoso filme de Al Gore sobre aquecimento global, mas eu prometo que este texto vai sim, dar uma esquentada na sua percepção sobre certas coisas.

Acontece que ter amigos homens desses próximos, que partilham seus segredos e que, vez ou outra, dividem também os grandes mistérios do mundo masculino, tem lá suas vantagens, nem que essas vantagens me façam passar bem próximo da síncope emocional.

Conversando com um desses amigos sobre os destinos dos romancezinhos frustrados, aqueles que começam bem e que, por algum infortúnio inexplicável, acabam em merda eis que, dessa conversa, surge uma das respostas mais urgentes do universo: dar ou não dar?

Não arrumei palavra melhor além de "dar" para explicar a situação. Tá lá, a garota paquerando (paquera é tão anos 80!) o cara há um bom tempo. Ficou encantada, diz ela. Da paquera pra ficada propriamente dita é quase rápido por que, nos dias de hoje, a moral e os bons costumes cof cof cof se afogam rapidamente no copo de vodka mais próximo. E depois da química estabelecida entre os dois (a única matéria de exatas que ela usa na vida prática), do beijo perfeito ela, mulher moderna, decidida, independente se pergunta: sim ou não? dou ou não dou? cumpro ou não cumpro a regra do "só-no-terceiro-encontro"?

Ao que eu respondo: não dê.

(se der, desapareça pelos próximos 15 dias e seja uma vaca, nojenta, carrasca dos infernos: o importante é agir como se ele fosse o último cara pra quem você quisesse dar novamente, no universo.)

Esse "dar" para uma mulher envolve uma série de questões que vão desde a necessidade de afirmação/se sentir gostosa até outros sentimentos mais complexos que geralmente são os responsáveis pelo final infeliz dessa história. E esse "dar" é mais abrangente do que simplesmente oferecer nosso corpo pro abate. Em geral é "doar" e doar pra malandro é um assalto consentido.

Mas vamos supor que somos todas lindas e resolvidas e que o sujeito em questão está todo encantado pelo nosso "jeitinho", e que tudo tem tudo pra dar certo, os ventos estão favoráveis, os astros estão no alinhamento perfeito, o universo conspira positivamente e aí a gente resolve liberar né? Vamos supor isso? Agora vamos descobrir no que isso vai dar?

Porra nenhuma.

O sujeito em questão não tem a sutileza/sensibilidade de perceber as coisas além da obviedade maçante dos padrões da vida dele. Por isso jamais vai achar que você gosta dele de verdade, afinal ele é um escroto e quem gostaria de um escroto né? Nunca vai perceber que você está dando pra ele por que ele merece, por que ele te faz feliz, por que você o elegeu como o cara que vai receber toda a sua gratidão sexual/emocional, por que você enxergou qualquer coisa interessante ali.

O sujeito em questão jamais vai levar em conta que o fato de você dar pra ele significa que você foi desarmada por alguém a quem você quer tão bem. Não ma friend! Você vai passar de garota encantadora/inteligente/diferente/intrigante, a mulher fácil, sem desafio, sem graça e, portanto, sem futuro, em apenas alguns dias. E seu telefone nunca mais vai tocar.

E ele vai te ignorar para todo o sempre, vai catar mais uma dezena de meninas depois de você e todo aquele encanto perdido vai permanecer mais perdido que tesouro de Indiana Jones e não tem nada que você possa fazer pra recuperar essa arca perdida. Não tem reaproximação nem simpatia, não tem desprezo ou ausência, não tem texto que dê jeito. Você virou apenas mais um número da lista dele. Na lista negra claro.

Podem existir exceções à regra, mas a equação é quase tão certa quanto dois mais dois serem quatro. Infelizmente, por mais nojento que possa parecer, o começo de qualquer romance/aventura/pegação, ma friend, é um jogo no qual aquele que se importa menos é o que vence e acredite: esse jogo primeiro tem que ser jogado FORA da cama.

Créditos e agradecimentos ao meu amigo, que confessou que sim, todos os homens no fundo são quase iguais e sim, todos acham que mulher é uma presa à solta e que legal mesmo não é traçar, é caçar.